"O mundo precisa de histórias felizes."

"À medida que envelheço, presto menos atenção ao que as pessoas dizem; simplesmente observo o que fazem."

domingo, 3 de agosto de 2014

Tela da vida

Caminhando de volta pro hostel onde estava hospedada, não parava de pensar em quanto eu era afortunada por poder estar ali, estudando aquilo que eu mais gostava, conhecendo pessoas maravilhosas e lugares lindos. Havia a recém feito uma aula ótima de repertório que a professora, decidiu não me cobrar, pois já tínhamos acertado uma aula anterior e esta ficaria de "brinde". Estava eufórica por dentro, feliz por voltar caminhando naquele dia lindo de sol e pensando no que fazer com aquele dinheiro que sobrou, já que meus pesos estavam escassos e tinha tanta coisa a fazer! Mas de repente, neste caminho florido que eu saltitava, me deparei com uma tela. Um menino estava dormindo no chão, vestes sujas e rasgadas, aspecto humilde e descuidado, numa das mãos havia um pão e a boca e o rosto estavam todos sujos de farelo. Ao visualizar aquela imagem, me compadeci do menino, por estar alí sozinho, atirado e pensei onde poderiam estar seus pais e seus irmãos, pensei na miséria profunda em que podiam viver e me questionei o porquê estava sozinho. Com a mesma dor que sempre senti pelos miseráveis, olhei aquele menino, pedi em silêncio à Deus que o protege-se e continuei a caminhar. Mas enquanto minhas pernas avançavam, minha cabeça permanecia ali e de repente, uma dor apossou-se do meu coração, quando percebi que aquela criança estava tão cansada que adormeceu com o pão na boca e que por estar com tanta fome, buscou alimento até o esgotamento físico, e ali sozinha adormeceu segurando o pão nas mãos, vencida pelo cansaço. Meu coração contraiu-se de tal modo, que não pude conter as lágrimas, senti-me miserável e abandonada, como aquele menino, e ainda pior, senti-me impotente face a grande miséria do mundo. Neste momento, percebi que vivemos fechando nossos olhos aos que sofrem, ignorando-os. E quantos eu já havia ignorado? 
Voltei para onde aquele menino estava e tirei da carteira uma parte do dinheiro que me restava, depositando-o ao lado da sua cabeça, em baixo de uma sacola que carregava, cuidando para não o acordar. Era tudo que podia fazer por ele, apesar de pouco. O deixei ali e segui meu caminho pensativa e emocionada, refletindo na beleza da vida e dos gestos. Gestos que podemos fazer a cada segundo por cada um que necessite, pequenos, humildes, talvez ínfimos mas que podem mudar a tarde de alguém, o dia, a semana, o mês, quem sabe até toda uma vida...
Nunca saberei o que aconteceu àquele menino quando acordou, mas prefiro acreditar que pelo simples fato de alguém ter se importando, ele se sentiu melhor, nem que seja por um segundo. Um segundo pode mudar tudo.

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